Portugal/Propostas/Calçada Portuguesa

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Descrição

A [W] calçada portuguesa é uma expressão artística, um elemento do património cultural, tradicional e distintivo de Portugal e muito concretamente de Lisboa, apesar de existirem expressões de calçada portuguesa por todo o país e também pelo mundo, com presença em todos os continentes, assumindo-se assim também como um elemento de divulgação da cultura portuguesa. É um elemento que valoriza a imagem do país e confere às cidades uma beleza e luminosidade únicas, dignificando o espaço público, tornando-o mais atrativo. Alia as características da durabilidade, de grande beleza estética, podendo, sempre que houver necessidade, ser renovada ou reconstruída. Tem ainda benefícios ambientais, comparando com outros tipos de pavimento, por regular a temperatura e aumentar a permeabilidade do solo, contribuindo para um melhor escoamento das águas.

A sua originalidade confere-lhe um estatuto muito particular, pois cada calçada é única devido à diversidade dos motivos utilizados, mas também porque o seu efeito final depende da produção e da mestria do artífice. Hoje em dia, é utilizada no calcetamento de áreas pedonais, praças, parques e pátios, mas também em espaços interiores públicos e privados.

História

A calçada portuguesa é uma herança histórica da cultura e da tecnologia de construção dos Romanos, de que existem inúmeros vestígios em Portugal, entre eles a Estrada Romana em Alqueidão da Serra, concelho de Porto de Mós.

A arte romana de empedrar não se limitou à técnica utilizada na pavimentação de vias de comunicação; restam entre nós exemplos de magníficos mosaicos dessa época em tesselas, uma técnica de decoração em ligações e contornos formando desenhos de grande perfeição técnica, feitos com pequenas pedras quadrangulares de aproximadamente 2 cm x 2 cm, geralmente de calcário ou mármore, mas também de vidro ou terracota, encontrando-se em Conímbriga um dos maiores legados desta arte de pavimentação.

O Império Romano construiu na cidade de Olisipo, hoje Lisboa, estruturas comerciais, industriais, culturais, faculdades, teatros, termas e habitações, tendo sido encontrados pavimentos de tesselas em edificações soterradas no centro da cidade.

Foram os Romanos que iniciaram o uso da pedra como material ao serviço dos exércitos no crescimento da defesa do seu império, explorando um manancial de oportunidades do seu uso como material de construção e decoração. Povo guerreiro e conquistador, os Romanos criaram uma vasta rede viária para melhor desenvolverem as suas atividades comerciais, bem como para facilitar o transporte de material de guerra e soldados, ligando o seu vasto império por pontes e caminhos construídos com pesadas lajes, colocadas contiguamente.

Não tão decorativa como a dos Romanos, a herança árabe caracteriza-se pelos seus desenhos arabescos através das mudanças estruturais e organizacionais das suas pavimentações, onde é nítido um uso ordenado em sistema de espinha ou espiga para aproveitamento das águas.

Foi no século XIV que, no reinado de Dom João II, nas cidades de Lisboa e Porto, a opulência e o luxo trazidos pela rentabilidade comercial abre caminhos a uma nova sociedade que leva à criação das chamadas "Ruas Novas" junto às áreas ribeirinhas, onde se concentravam as grandes fortunas e as lojas de mercadorias.

Dom João II, encantado com a qualidade dos trabalhos em pedra na cidade do Porto, mandou empedrar a Rua Nova da capital, que, mais tarde, viria a dar origem à abertura de pedreiras junto a Cascais, tendo sido celebrados contratos com pescadores dessa zona para o seu transporte. Todavia, foi Dom Manuel I, que lhe sucedeu, que, 30 anos depois do seu início, concluiu a obra da Rua Nova, a qual, com os seus 200 metros, foi considerada pelos cronistas da época como a mais comercial e internacional das ruas quinhentistas.

O Renascimento, que por sua definição é o recuperar de tradições clássicas, havia de revalorizar a pedra como matéria-prima funcional e decorativa.

Com os terramotos de 1531 e 1551, deu-se um novo impulso a novos arruamentos, mas foi com o grande terramoto de 1755 que Lisboa iniciou um enorme projecto, não só de reconstrução de edifícios, mas também de abertura de novas ruas e recuperação das antigas.

Com as características de aspeto com que hoje a conhecemos, a calçada portuguesa teve como seu grande impulsionador o governador do Castelo de São Jorge, em Lisboa, entre 1840 e 1846, o tenente-general Eusébio Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado (1777-1861), que transformou a fortaleza e os seus arredores em lugares de passeio, onde foram introduzidas flores, arvoredo e calçada mosaico. Este trabalho foi feito por reclusos e o desenho utilizado foi de traçado simples, mas a obra tornou-se de certa forma singular para a época, a ponto de vários cronistas portugueses terem escrito sobre o assunto. O agrado pelo bom gosto e pelo valor estético do empedrado, aliados à sua funcionalidade, levaram a Câmara a reconhecer o excelente trabalho do engenheiro militar Eusébio Furtado, profundo conhecedor das técnicas romanas, e a prosseguir com novas iniciativas de carácter paisagístico, com relevo para o uso de calçada mosaico. Em 1848, Eusébio Furtado viu aprovado o seu projecto para a Praça do Rossio, uma obra com uma área de 8712 m2, concluída em 323 dias, onde foi introduzido o calcetamento designado "Mar Largo", em homenagem aos descobrimentos portugueses. Foi no Rossio que um novo reordenamento urbanístico deu lugar a uma circulação mais segura dos transeuntes, através do nascimento do passeio.

A baixa de Lisboa transformou-se, com a maioria das suas ruas a serem calcetadas em basalto, entre elas o Largo de Camões, em 1867, o Príncipe Real, em 1870, a Praça do Município, em 1876, o Cais do Sodré, em 1877, e o Chiado, finalizado em 1894. A abertura da Avenida da Liberdade deu-se em 1879 e, em 1908, chegou finalmente ao Marquês de Pombal, com largos passeios onde foram introduzidos belos e deslumbrantes tapetes de desenhos, que fazem de Lisboa a cidade referência deste tipo de pavimento artístico.

Surgiu assim, no início do século XX, a calçada portuguesa, talvez a maior contribuição do nosso país em matéria de qualidade no "mobilar" dos espaços urbanos, como afirmaram Francisco Pires Amaral e José Santana-Bárbara, autores da obra "Mobiliário dos Espaços Urbanos em Portugal".

A calçada portuguesa é uma atividade com história e tradição, cuja continuidade se revela para muitos bastante problemática, quer pelo aumento dos custos de manutenção das pedreiras e equipamentos, quer pelas dificuldades ambientais e legislativas que, hoje em dia, as pedreiras enfrentam. De qualquer forma, o uso da calçada portuguesa ganhou muitos adeptos nos últimos 15 anos, além de novos clientes com novas necessidades, que foram e vão surgindo, ao que podemos aliar o surgimento de grandes obras a nível nacional e internacional. A calçada portuguesa passou do uso exclusivo em exteriores para a decoração de espaços interiores privados e públicos, quer na construção residencial, quer nas zonas comerciais e de escritórios.

Características

A calçada portuguesa obedece a regras estabelecidas pelas escolas de mestres calceteiros e vertidas no Manual da Calçada Portuguesa.

Em termos gerais, caracteriza-se pela aplicação das pedras predominantemente de calcário branco e preto, ou bege-acastanhado e rosa-alaranjado ou avermelhado, embora, também se recorra ao basalto e ao granito. Estas pedras de tamanho regular e talhadas à mão pelos chamados calceteiros, são usadas para formar padrões decorativos. As juntas devem ser uniformes e obedecer à medida padrão, e as pedras assentes numa camada de pó de pedra ou de areia com 4 a 15 cm de altura, em função da dimensão da calçada que vai ser aplicada. É nessa camada que serão assentes as pedras de calçada, o que irá evitar, no futuro, deformações do pavimento e o consequente desprendimento das pedras.

Medidas de calçada mais utilizadas consoante as aplicações

  • Passeios e circuitos para peões – 5/7 cm
  • Ruas com circulação auto, garagens e estacionamentos – 9/11 cm ou 12/13 cm
  • Trabalhos artísticos – 4/5 cm
Variação da espessura da camada de pó de pedra ou de areia em função das dimensões da calçada.
Dimensões da calçada (cm) Espessura da camada de pó de pedra/areia (cm)
4/5 4/7
5/7 7/10
9/11 10/15
12/13 10/15

Fixing the Pavement (5941882984).jpg


Em complemento, as juntas deverão apresentar um espaço superior a 0,5 cm, de forma a diminuir-se o risco de oscilações do piso. Esse espaço entre as diferentes pedras da calçada também é variável em função das dimensões utilizadas e não deve exceder o seguinte:

Variação da largura das juntas em função das dimensões da calçada (valores aproximados).
Dimensões da calçada (cm) Espaço (juntas) entre as pedras da calçada (cm)
4/5 0,5
5/7 0,5/1
9/11 0,5/1,5
12/13 0,5/2


Colorações mais comuns por tipo de aplicação

As tonalidades da calçada, simples ou combinadas umas com outras, são mais ou menos utilizadas em função das utilizações. Habitualmente, cada uma delas é mais usada nos seguintes casos:

  • Passeios e circuitos para peões – Pedra branca
  • Faixas e motivos decorativos – Pedra preta e cinzenta
  • Parques de estacionamento e garagens – Pedra branca e cinzenta-clara
  • Motivos artísticos – Pedra branca combinada com pedra preta e/ou rosa.

Os calcários brancos são os mais utilizados nas aplicações da calçada portuguesa, encontrando-se presentes na maioria dos trabalhos. Podemos encontrar esta tonalidade praticamente em toda a parte (em passeios, ruas, praças, etc.).

Calçada portuguesa no mundo

Após a sua implementação em Portugal, sobretudo em Lisboa, onde tomou proporções culturais e artísticas de relevo, a calçada portuguesa espalhou-se pelo mundo. Chegou-se a enviar mestres calceteiros para os EUA, Brasil, África, Timor e Macau para ensinar a sua montagem.

Atualmente, podemos encontrá-la em Macau, Estados Unidos da América, Espanha, Brasil, Angola, Alemanha, Bélgica, França e Catar, entre outros.

Porquê criar uma etiqueta para a calçada portuguesa?

Dada a especificidade deste tipo de pavimento, quer em termos artísticos, históricos, culturais, económicos, rubanísticos e de mobilidade, é útil criar uma etiqueta que o distinga na base de dados do OpenStreetMap, quer para pesquisa com fins estatísticos, para análises de mobilidade em meios urbanos ou ainda para identificar obras de arte públicas e, por isso, com fins turísticos.

Considerando que estamos a falar no âmbito da etiqueta surface=sett, a comunidade portuguesa de OSM decidiu aproveitar os subvalores de sett (ver Taginfo) para criar uma etiqueta que especifique este estilo de calcetamento e abrir caminho a outros que possam existir ou surgir noutras partes do mundo.

Assim sendo, propõe-se a utilização da seguinte combinação de etiquetas para mapear pavimentos que correspondam à calçada portuguesa:

surface=sett + sett:style=portuguese


Galeria

Ver também